"Resenhando" #2: Sandman e O Livro dos Sonhos
Um pouco de Sandman e outro pouco de O Livro dos Sonhos
A primeira coisa a se dizer é que não, esse não é o Sandman de Neil Gaiman.
A segunda coisa a se dizer é que não, isso não é nenhum demérito, apenas uma constatação.
Existem tantas versões de Sandman quanto se possa imaginar. Versões que vão desde o amigável Sandman de A Origem dos Guardiões — amo esse filme —, até o Sandman do incômodo curta, Sandman, The, de 1992, que passa longe, mas bem longe, de ser amigável. Ou ainda versões que vão de Enter the Sandman, do Metallica, até o Sandman do conto Sonhos são Feitos de Areia, que eu mesmo escrevi hehe. E essa variedade, na minha opinião, é toda a graça de Sandman.
Sandman não é o único personagem com representações bastante distintas, mas existe algo que o concede maestria nesse papel de interpretações. Talvez seja toda a ligação mística do personagem com os sonhos, e a questão de que sonhos são únicos e, assim, dependentes das mentes das quais saíram cada criação; ou talvez, confesso, seja só uma interpretação minha e, portanto, coisa da minha imaginação… Acho difícil, no entanto. Afinal, o universo não brinca, e ele jamais permitiria que o prefácio de O Livro dos Sonhos, escrito — e muito bem escrito — por Frank McConnell, que atrela Sandman a própria capacidade humana de imaginar significados, e o chama de “máquina de contar histórias”, fosse aceita e colocada em circulação.
Seja lá qual for a resposta realmente real, o ponto é que o Sandman de O Livro dos Sonhos, ou os Sandmans de O Livro dos Sonhos, são diferentes interpretações de autores sobre Sandman quanto personagem, e Sandman quanto o próprio universo, que permite a existência de um palco e o cede a seus perpétuos irmãos.
E, assim, não poderia ser diferente: o livro é como uma caixa de surpresas, de sonhos — ou pesadelos, se você preferir —, e a variedade resulta em uma super interessante edição.
Os contos vão de histórias leves, como Sete Noites na Terra do Sono, de George Alec Effinger, passando por histórias como Chain Home, Low, de John M. Ford, que intercala trechos nas trincheiras com trechos num hospital mental; até histórias com temáticas mais incômodas, como Derramamento, de Will Shetterly, que conta sobre uma tal de convenção de cereais.
De todas as histórias, no entanto, Cada Coisa Úmida, de Barbara Hambly, foi a minha predileta. O conto conta com a relação cômica e icônica resultante das dualidades existentes em Caim e Abel — que me fez lembrar das picuinhas com meus primos e meu irmão —, e com ação na medida exata; aquela que acelera o ritmo de leitura sem causar confusões que forçam o leitor a voltar no texto para tentar desvendar de onde tal coisa surgiu, ou como e quando os personagens chegaram em determinada situação.
Não gosto de dar notas para livros. Acho pouco produtivo e resultado de comparações com pouco, ou quase nenhum, sentido. Ao invés disso, prefiro dizer que obviamente alguns contos não me prenderam tanto, mas que os que prenderam me fizeram chegar aquele delicioso estado em que parece ser possível ouvir a voz dos narradores e dos personagens, e que estou verdadeiramente ansioso para ler o volume 2… Um conto por dia. Um sonho por dia. Ou até um pesadelo na quarta? Por que não?...
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Curiosidade
Um dos contos tem um trecho de Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll, no final. Assim que terminei, acabei lembrando de Jabberwocky, o que me levou a procurar por vídeos de pessoas lendo o poema e, eventualmente, cair nesse vídeo da Erutan:
Não tenho ideia de quantas vezes escutei, mas sei que contribui bastante com o número de visualizações, haha. Muito bom :)
Espero que tenha gostado do texto e da sugestão! Nos encontramos nos comentários, caso quiser conversar :)